O resultado expressivo do PDT nas urnas para a eleição de vereadores em Salvador voltou a evidenciar um embate velado entre a vice-prefeita reeleita Ana Paula Matos e o deputado federal Leo Prates.
No período pré-eleição, a chapa de postulantes a vereador do PDT prometia trazer para o pleito uma disputa particular entre os apadrinhados dos dois: Omar Gordilho e Zilton Netto. De um lado, ocupando o posto de parlamentar mais votado em Salvador na eleição de 2022, Prates apostava em aproveitar seu capital político para eleger Zilton Netto, ex-diretor de Ações de Proteção e Defesa do Consumidor (Codecon).
Zilton foi seu assessor na Câmara de Salvador e chegou a ocupar sua chefia de gabinete. O desempenho, no entanto, ficou abaixo do esperado: o estreante em eleições recebeu 6.333 votos e ficou na primeira suplência do PDT.
Com o “sarrafo elevado”, nenhum vereador eleito pelo partido teve menos de 10 mil votos. Com isso, Leo Prates assistiu seu aliado ficar atrás de Omarzinho (18.304 votos); Roberta Caires (16.517 votos); Anderson Ninho (16.203 votos) e Débora Santana (10.137 votos).
Por outro lado, Ana Paula conseguiu emplacar o vereador mais votado da sigla: ex-Limpurb e Semop, Omar Gordilho saiu como grande puxador de votos e terminou como quarto mais votado da cidade. Além do apoio direto da vice-prefeita, ele também recebeu suporte do deputado e presidente estadual do PDT, Félix Mendonça Júnior, de quem é aliado.
Fortalecida com os números, Ana Paula Matos ganhou algumas casas na briga pela sucessão de Bruno Reis, em 2028, para ser a candidata do grupo. Já Prates, que nunca escondeu o desejo de se lançar como candidato a prefeitura em Salvador e chegou a colocar seu nome à disposição reiteradas vezes, agora precisa recalcular a rota para voltar a fortalecer suas pretensões.
Publicamente, Prates tem minimizado o resultado do seu principal apadrinhado ao dizer que contribuiu com as campanhas vitoriosas de Daniel Alves (PSDB) e Cláudio Tinoco (União), ambos reeleitos no último dia 6. Fora do PDT, Ana Paula Matos também tem uma vereadora “chamar de sua”: foi umas principais apoiadoras da campanha de Isabela Sousa (Cidadania), que a partir de janeiro terá uma cadeira na Câmara.
Agora, é esperado que o PDT, tal qual o União Brasil e o Republicanos, tenha um vereador alçado ao secretariado de Bruno Reis a partir de janeiro. O movimento é natural após o processo eleitoral e também garante a aliados que não lograram êxito nas urnas o espaço na Câmara de Vereadores.
A arrumação permitiria que Zilton assumisse temporariamente uma cadeira na Casa Legislativa, minimizando a “derrota” de Prates no processo.
O Bahia Notícias apurou, no entanto, que inicialmente o planejamento do prefeito Bruno Reis era puxar um quadro do PDT para o primeiro escalão caso o partido tivesse um rendimento abaixo do esperado, com apenas três vereadores eleitos. Mas passada a eleição, fontes ligadas ao Palácio Thomé de Souza indicam que o gestor municipal projeta concretizar o movimento para não acentuar a crise entre os dois aliados em meio a um debate tão antecipado para o próximo pleito.
Outro ponto relatado ao Bahia Notícias por interlocutores da prefeitura é que, no dia seguinte à eleição, Bruno Reis fez um gesto e deixou clara a intenção em continuar dando protagonismo a sua vice. Ela deve retornar ao secretariado e à própria pasta da Saúde, por onde já passou, é uma opção.
Durante um evento da prefeitura, Bruno mandou o recado: “Mais do que ser o mais votado da história de Salvador, o meu principal trunfo é ter essa mulher ao meu lado”, disse.